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Retrofit de conjunto de galpões é realizado em tempo recorde em São Paulo

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Reaproveitar um antigo parque industrial e adequar a estrutura pré-existente a uma escola para 1.000 alunos, que seja moderna e respeite todos os aspectos pedagógicos solicitados pela contratante. Tudo isso dentro do prazo curtíssimo de pouco mais de 13 meses. Este foi o desafio enfrentado pela equipe da Barbara Construtora e Engenharia durante a construção da nova sede da escola bilíngue Beacon, no bairro da Vila Leopoldina, Zona Oeste de São Paulo.

O projeto segue um conceito retrofit, termo que tem sido cada vez mais citado no cotidiano dos arquitetos e engenheiros e que significa algo como “atualizar o antigo”, neste caso, a modernização da construção antiga. “São galpões que já foram indústrias, mas que tinham um patrimônio construído bem importante. Seria uma loucura jogar fora”, explica Vinicius Andrade, sócio-fundador da Andrade Morettin Arquitetos, responsável pelo projeto juntamente com a GOAA Arquitetos Associados.

A partir da proposta de aproveitamento do patrimônio construído, bem como da introdução de novos elementos, foi estabelecido um planejamento de obra de acordo com o curto prazo especificado. “Nossa primeira ideia foi pensar como se estruturaria um planejamento para a execução da obra em frentes de ataque. Então, a primeira ideia foi dividir em blocos”, afirma Francisco Santos, gerente de planejamento e controle da Barbara Construtora e Engenharia.

Dessa maneira, a obra foi separada em quatro blocos, cada um com sua tipologia construtiva. O primeiro bloco é uma estrutura mista metálica de três pavimentos com lajes pré-moldadas de concreto armado, onde ficariam as salas de aula. O segundo bloco é composto de biblioteca, laboratório e espaço da secretaria no primeiro pavimento. No segundo, salas de aula, também com o mesmo método construtivo.

Em seguida, um bloco com ginásio e espaço multiuso com auditório para 440 lugares, refeitório, salas de arte e música. Neste caso, há uma mistura de estrutura mista metálica com lajes pré-moldadas de concreto armado e estrutura metálica com laje steel deck. O quarto e último bloco é composto de salas de aula, biblioteca, área de atendimento aos pais, secretaria e coordenações. É onde mais houve aproveitamento da estrutura preexistente. Foi realizada também ampliação com estrutura metálica e lajes pré-moldadas e estrutura de concreto armado.

Para o cumprimento do prazo, o que foi estabelecido é que cada um desses blocos deveria funcionar simultaneamente em quatro frentes. “Em razão do tempo, a gente não teve como fazer uma sequência de atividades”, explica Francisco Santos, da Barbara Construtora, que destaca também a organização das equipes por meio de cores, de acordo com cada bloco, para facilitar a identificação. No auge da obra, trabalharam cerca de 150 pessoas no canteiro.

A opção por elementos pré-moldados foi outra solução fundamental para garantir a entrega da obra em fevereiro. “Praticamente, era uma montagem. Usamos estrutura metálica, lajes pré-fabricadas, painéis, fechamento de drywall e chapas de compensado naval pré-fabricadas, chapas de MDF, esquadrias de alumínio e vidro. Ou seja, componentes industrializados que integram o sistema construtivo leve e seco”, ressalta o arquiteto Vinicius Andrade, da Andrade Morettin.

Interferências indesejadas

A opção pelo conceito retrofit impõe desafios que outra obra talvez não tivesse. Logo nas etapas de escavação e cravação dos perfis metálicos, a equipe deparou com interferências indesejadas no solo. “Por mais que tenha sido feito o levantamento topográfico minucioso de todas as edificações existentes, o que estava enterrado foi descoberto aos poucos”, explica Marcio Pestana, coordenador de obras da Barbara Construtora.

Havia fundações e bases perdidas no meio do caminho que precisaram ser removidas, provavelmente resquício de alguma ponte rolante ou base de equipamento da época em que os galpões tinham atividade industrial. “Isso foi um percalço na questão de prazo, porque, em uma produção de cravação de perfil de nove ou dez unidades por dia, às vezes a gente não conseguia cravar essa quantidade”, afirma o coordenador.

No Bloco 3, onde as fundações de algumas alvenarias estavam comprometidas, foi feito um reforço estrutural com estaca mega, também conhecida como estaca cravada à reação ou prensada. Segundo o gestor de obras Luiz Fernando Caulada, foram utilizados três perfis de bate-estacas, com alturas diferentes, uma vez que cada um dos blocos possuía um pé-direito distinto.

Enquanto havia demolição e execução das fundações, período que durou de dois a três meses, todo o material da estrutura metálica estava sendo produzido. Nesse ponto, a confiança entre os parceiros comprometidos foi fundamental para o cumprimento das metas. “É necessário parceiros que realmente comprem a ideia do projeto de providenciar as coisas fora do canteiro para trabalharmos com uma quantidade maior de pré-montados e pré-fabricados possível”, ressalta Pestana.

Para organizar a operação, todo o material que chegava à obra era estocado no vão onde hoje fica o espaço multiuso, local em que haveria menos atividade. “Ali só fizemos um pouco de demolição e um reforço de telhado”, explica o coordenador de obras.

A estrutura metálica possuía destino diferente. Conforme chegava ao local, era descarregada próxima ao bloco adequado, devido à dificuldade de se transportar vigas e pilares em um canteiro. O restante do material foi todo transportado com o auxílio de um manipulador telescópico.

Execução das lajes

As lajes foram todas executadas da mesma maneira: pré-moldadas de concreto armado. Apenas no Bloco 3, onde está localizado o ginásio, foi utilizado o steel deck, também conhecido como laje mista, por se tratar de lajes em balanço numa área pequena, pegando somente o contorno da quadra. Dessa maneira, o ginásio é a única estrutura 100% metálica, com as vedações com estrutura auxiliar metálica e os fechamentos em telhas termoacústicas

No Bloco 2, onde há dois pavimentos e o pé-direito tinha mais ou menos 5,5 m de altura até a ponta mais baixa do telhado do tipo shed, a necessidade de concretar uma laje no interior dessa estrutura forçou a equipe a desmontar três dos seis telhados. “Existiam compartimentos antigos, que eram a sustentação do telhado. Então, para passar com a laje, foi preciso tirar a parede. Tivemos que desmontar parte do telhado, fazer a laje e criar novos apoios da estrutura metálica”, explica Pestana.

Reforço estrutural

Diversas etapas da obra exigiram reforço estrutural, de maneira a se aproveitar a estrutura preexistente dos galpões. Em termos de solo, foram necessários demolição e reforço dos pisos. “Nós Tínhamos um piso de concreto com uma determinada característica no projeto e, devido ao desempenho que esse piso precisaria ter ao longo do uso em alguns pontos, foi necessário fazer um reforço de solo”, destaca Pestana, coordenador de obras da Barbara Construtora. Foi realizada uma adição de cimento ao solo para dar um grau de compactação maior e uma base perfeita para o piso de concreto.

“Dentro daquilo que existia e iria permanecer, a gente fez uma análise da situação da alvenaria, ou da estrutura em que se encontrava, e adequamos ao seu uso”, explica o coordenador. Sendo assim, foram realizados reforços nos telhados em sheds, nos pilares e a utilização da estaca mega, já mencionada. Houve também reforços pontuais em vigas, de acordo com cada necessidade.

Telhados

No espaço multiuso, houve o reforço mais significativo em termos de telhado. Havia um arco inicial de madeira, que era interrompido por um pilar, e não chegava até a lateral como os outros. Como o pilar seria removido, foi feito um complemento desse arco para remover o pilar. Além disso, houve um reforço em dois outros arcos devido a uma sobrecarga adicional para receber a estrutura metálica que comportasse iluminação e elementos de artes cênicas para o palco.

No Bloco 4, que apresenta quatro pavimentos preexistentes, havia uma laje de cobertura onde foi removido o telhado. No seu lugar foi colocado um deque de madeira para a circulação de pessoas. Como a laje de cobertura passou a ter nova função e a receber uma sobrecarga, foi necessário o reforço com fibras de carbono.

Nos outros telhados, foram feitas verificações, conforme destaca o gestor de obras Luiz Fernando Caulada. “Um dos apoios do telhado em shed era de alvenaria e tínhamos que manter a tipologia dos demais. Por isso teve que ser feita uma treliça que não existia”, explica. Os sheds que estavam suportados por pilaretes a cada 3 m também precisaram de reforço com fibra de carbono epóxi. “Havia alguns que já estavam deteriorados”, afirma Luíz Ferbabdo Caulada. Por fim, os telhados receberam painéis termoacústicos de lã de rocha.

Acabamentos

As salas de aula basicamente foram feitas com estrutura metálica com drywall. Dentro das salas, os forros perfurados contam com camadas com desempenhos acústicos diferentes. As instalações elétricas e as hidrossanitárias possuem tubulações de fios e água aparentes, identificadas por cores diversas. Essa opção, além de seguir o conceito inicial do projeto, garantiu a interdependência entre as atividades – o que ajudou na velocidade da obra.

Para o revestimento de fachada, foi utilizado em sua maioria o policarbonato. O que era preexistente foi substituído, pois não se conhecia a classificação e o enquadramento do material em relação às condições de resistência ao fogo. “O piso empregado foi o vinílico em grande parte. A marcenaria ganhou acabamento de compensado naval, com um tratamento com verniz ignifugante para atendimento dos 30 minutos de resistência ao fogo”, afirma o gerente da Barbara Construtora, Francisco Santos.

Sustentabilidade

Este quesito do projeto da escola Beacon passa por conceitos de ventilação cruzada e aproveitamento da luz natural. “Na medida em que a gente constrói embaixo dos galpões, já faz a nova edificação numa condição ideal. Pois é ventilada e totalmente sombreada. Então existe uma estratégia passiva de adequação climática, que é fazer uso da cobertura como uma imensa sombra nas edificações novas”, explica o arquiteto Vinicius Andrade, da Andrade Morettin.

Além disso, há um sistema de reúso de água pluvial. A retenção de água fica embaixo da quadra externa, ao lado do Bloco 2, onde há uma cisterna de 30.000 litros, capaz de reaproveitar a água na irrigação dos jardins. Nos telhados, há também um sistema de aquecimento solar de água com backup a gás.

Devido ao histórico de alagamentos na região, próximo à cisterna foi construída uma caixa de retardo de 90.000 litros, para a proteção contra enchentes. “Existia uma preocupação com os alagamentos em toda a região. Por isso todo o perímetro do terreno foi protegido com uma contenção de concreto armado e os acessos ganharam comportas metálicas, para em uma eventualidade haver um plano de mitigação”, explica Marcio Pestana.

FICHA TÉCNICA
Nome da obra/edifício nova sede da Beacon School
Localização Vila Leopoldina (São Paulo-SP)
Início da obra Dezembro/2016
Entrega da obra Fevereiro/2018
Área do terreno 11.700 m²
Área total construída 10.431,13 m²
Construção Barbara Construtora e Engenharia
Arquitetura Andrade Morettin Arquitetos e GOAA
Estrutura Stec Engenharia
Instalações Gera Engenharia
Luminotécnica Godoy Luminotecnia
Drenagem Contag Engenharia
Acústica Alexandre Sresnewsky Acústica e Tecnologia
Climatização Willem Scheepmaker & Assoc. Ltda.
Paisagismo e agronomia Ricardo Vianna
Fundações Apoio Assessoria e Projeto de Fundações
Pavimentação LPE Engenharia

 

 

Por Dirceu Neto | Fotos Divulgação

FONTE TECHNE

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